quinta-feira, 3 de maio de 2012

INTOLERÂNCIA FUTEBOLÍSTICA. ATÉ QUANDO?

Acabei de  assistir num telejornal mais uma notícia sobre um fato trágico envolvendo torcida organizada, desta vez no Rio de Janeiro, onde torcedores, ou melhor dizendo, selvagens perversos, travestidos de torcedores do Vasco da Gama, no último domingo, descontaram sua fustração da perda da Taça Guanabara, de forma absurdamente covarde, espancando brutalmente um torcedor do Flamengo, que sequer estava vestido com a blusa, mas foi reconhecido por fazer parte de uma torcida organizada do rubro-negro que sequer jogou no último domingo. Como professor e, sobretudo, como cristão católico, fico perplexo e cada vez mais preocupado com barbáries como estas. Afinal, tenho amigos, alunos, crianças e adolescentes, que fazem parte de torcidas organizadas, sobretudo as maiores do nosso Estado, que ao invés de estarem torcendo e incentivando seus respectivos times, ficam nas redes sociais marcando confrontos, colocando terror no nosso, até pouco tempo pacífico Estado das Alagoas. 

Foi pensando nestas pessoas e com a missão profética  que Deus confere a todos nós desde do nosso batismo, e que confirmamos na nossa crisma, que trago mais uma vez duas reflexões, feitas em outras ocasiões sobre o mesmo preocupante tema. São pequenos flashes para abrir os olhos de quem possa ler, para que não nos conformemos com esta situação absurda e caótica que estamos vivendo, e possamos conscientizar outras pessoas que idolatram tanto um time de futebol, que esquecem que são imagem e semelhança de Deus, e que cada um de nós, sem exceção, temos direito de opinião, portanto, de torcer pelo time que nós simpatizamos, e não usá-los como desculpas para sermos selvagens, brutais e criminosos.



A IMBECILIDADE DE BRIGAR POR CAUSA DE UM TIME. 1


Sou professor há cinco anos, e cada vez mais me espanto pelo fanatismo de grande parte dos meus alunos pelos times do futebol, em especial, os do futebol alagoano. Torcer por um time de futebol não é um mal e chega até ser saudável. As torcidas organizadas quando foram criadas tiveram um objetivo nobre: juntar os torcedores de um determinado time para incentivá-lo e oferecer aos estádios um colorido diferente. O problema é quando se torna um fanatismo impedindo que aceitemos o outro que tem preferência contrária a nossa e, por não torcer pelo nosso time do coração, automaticamente ele é um inimigo mortal, mesmo quando nem sequer eu conheço, nem tão pouco fez nada de mal contra mim. Se torcer por outro time, merece apanhar e até, em muitos casos, morrer. Essa é a lei da selva das torcidas organizadas.

Neste tempo que leciono não me lembro quando um aluno chegou para mim e perguntou qual o time que eu torço. Mas lembro das inúmeras vezes que me perguntaram, e perguntam, se eu sou Mancha ou Comando, ou se eu sou Manchete ou Comédia. CSA e CRB parecem palavras abolidas no vocabulário das nossas crianças, adolescentes, jovens e, pasme muitos adultos.

No último domingo, assistir pela TV, o clássico Fla X Flu e fiquei admirado com as bandeiras dos torcedores dos times. Todas elas, sem exceção, tinham como símbolos personagens dos violentos filmes de terror como Jason, Freddy Krueger. Esses são os referenciais das torcidas organizadas. E as torcidas organizadas são referenciais de muitos jovens. O terror verdadeiro promovido pelas torcidas chegou a um ponto, que recentemente, um grande amigo meu e líder da juventude da Paróquia do Divino Espírito Santo, e louco por futebol, chegou a dizer que nunca mais pisaria os pés num estádio quando fosse um clássico CSA X CRB.

Que absurdo! O estádio de futebol, lugar que até pouco tempo atrás era para as famílias, para os pais se confraternizarem torcendo pelo seu time favorito, virou praça de guerra. E esse é o clima que as torcidas organizadas promovem. Canso de ouvir meus alunos cantando hinos de guerra contra a torcida organizada adversária. De fato é uma guerra, e como tal, tem suas vítimas fatais. Um ex-aluno tem um álbum no seu perfil no orkut intitulado: “Homenagem aos chegados que estão no céu”. Fico espantado ao ver jovens, e até mesmo crianças, que tinham uma lindo futuro pela frente, perder suas vidas por causa de um time. O mais velho aparentava ter uns 18 anos. Em comum, todos com a camisa da torcida Mancha Azul ou do CSA. Voltamos ao tempo dos bárbaros.

A intolerância, por causa de um time de futebol, é algo rotineiro. O absurdo que, enquanto uns matam e morrem por causa de um time de futebol, os jogadores deste mesmo time, ganhando ou perdendo uma partida, no fim do mês tem o seu salário no bolso. Alguns chegam ganhar milhões, num país onde a maioria da população não ganha sequer o mínimo para sua sobrevivência.

Deus é perfeito, logo Ele não repete. As pessoas, imagem e semelhança do Criador, são diferentes. Temos gostos diferentes. Ninguém é obrigado a torcer pelo mesmo time que o meu. A maioria dos meus amigos torcem por times diferentes que o meu. Meus melhores amigos são vascaínos e regateanos, enquanto eu sou flamenguista e azulino.

Até quando as pessoas vão desrespeitar a opção do seu próximo? Quero ter o direito de vestir à camisa do meu time para ir trabalhar. Quero, no futuro, levar meus filhos ao Estádio Rei Pelé, como meu pai me levou inúmeras vezes para assistir o Clássico das Multidões. Quero ter o meu direito por ter gostos diferentes do outro seja respeitado da mesma forma que respeito quem tem gostos diferentes do meu.

Como cristãos, não podemos ficar calados e inertes diante dessa barbárie. Está na hora de damos um basta nisso tudo. Evidente, que não vamos acabar com a violência promovida pelas torcidas organizadas. Mas podemos conscientizar nossos irmãos que a sua liberdade termina quando começa a do outro. Está na hora de mostrarmos aos nossos irmãos que, antes de torcer por um time local ou nacional, somos titulares absolutos do time de Jesus Cristo. Ele jamais nos deixará no banco.



TORCIDAS OU CRIMINOSOS ORGANIZADOS? 2


No começo da tarde de ontem, estava no Terminal do Complexo Benedito Bentes, esperando Malinhah, minha parceira de missão, para juntos irmos ao Clima Bom. Lá encontrava-se cerca de 50 adolescentes, jovens e até crianças, uniformizados com a blusa da torcida Mancha Azul, cantando palavras de ordem que incentivavam a intolerância a quem não torcesse pelo meu glorioso e sofrido CSA.

Ao entrarem no busão, que curiosamente, era de uma linha que iria passar por lugares totalmente distantes e opostos ao Trapichão, local onde seria realizado o clássico das multidões CSA X CRB, começaram a cantar mais alto as tais canções de ódio fazendo muitos passageiros descerem e desistirem de ir no mesmo ônibus que aquele grupo. Entendo perfeitamente o receio dos passageiros, pois alguns meses atrás, eu estava num ônibus que faz a linha Benedito Bentes - Ponta Verde, quando na Santa Lúcia, cerca de 50 jovens da torcida organizada Comando Vermelho, subiram no busão e fizeram a maior baderna. Confeso que temi de medo, pois achava que tratava-se de um arrastão. Cheguei até a tentar esconder o que eu tinha de azul na minha camisa. rsss... Mas o máximo que aconteceu foi ao descer, quebrarem o retrovisor traseiro, o que acabou causando um prejuízo enorme, para a empresa, o motorista e cobrador, e para os passageiros que não esperavam este ônibus, pois tiveram que amargar uma espera maior, já que o mesmo tinha tornado-se "Especial", ou melhor dizendo, inutilizado.

Voltando a falar sobre o fato do começo da tarde de ontem, o ápice do absurdo foi quando o ônibus saiu do terminal e os torcedores (?), soltaram um rojão dentro do ônibus. Por pouco não feriu ninguém. Vejam a que ponto chegamos. Não esperam nem chegar no Estádio, para apontar para o alto e soltar o rojão saudando o seu time. Tem que começar a soltá-lo dentro de um ônibus lotado. Atitude patética, perigosa e inconsequente.

A noite, fui participar da Santa Missa das 20 horas, na Igreja de Santa Rita, no Farol. Ao termino, fui ao ponto da Praça Centenário. Estavamos apenas eu e um senhor, quando de repente vimos um grupo de cerca de 30 jovens da mesma torcida Mancha Azul, o que nos assustou, já que éramos apenas dois homens, diante daquela multidão de jovens. Graças a Deus, antes deles se aproximassem de nós, um ônibus apareceu e entramos (o senhor até pegou o ônibus errado e desceu pontos depois, aliás, um que não tinha alguém uniformizado).

Ao passar pela EMBRATEL, algo me fez preocupar, não por mim que já estava "seguro" dentro do coletivo, mas por várias famílias que estavam saindo de um culto da Assembleia de Deus no exato momento de aproximadamente 100 jovens subiam a Ladeira indo ao encontro deles. Graças a Deus, não deve ter acontecido nada, pois do contrário, teria sido noticiado. Em todo percurso do ônibus, tinha um grupinho de algumas torcida organizada, aparecendo dos lugares mais improváveis. Ontem a noite, me sentir num daqueles filmes de zumbis. Onte foi a dia dos "Manchalândia" e "Comandolândia". *

Há menos de um mês, uma torcida organizada fez um arrastão do Shoping Maceió a Orla da Jatiúca, assaltando a todos que estivessem no caminho. Mais uma vez fui salvo por Deus, pois sair de casa, para ir a faculdade minutos depois que o Tsunami de Marginais tinham metido broncas.

Há quase um ano, estava no terminal da Colina, junto com o Wilker, a Neide e outra jovem da Paróquia do Vergel, quando um grupo de torcida organizada desceu no terminal e começaram a cantar palavras de ordem e a fazer atos de vandalismo.

Enfim, se eu for só relatar os fatos que eu testemunhei ou tive conhecimento relacionado as torcidas organizadas aqui de Maceió, eu não escrevo o meu artigo. Relatei esses fatos apenas como exemplo para refletirmos. Será possível que seremos reféns dos marginais travestidos de torcedores?

Quero deixar claro que eu não estou generalizando. Ainda existem nessas torcidas alguns verdadeiros e criativos torcedores. Mas o fato é que um número bastante significante leva a rivalidade dos campos para o lado pessoal e passar a usar de violência e intolerância como meios de se impôr na sociedade, aterrrorizando até mesmo quem sequer gosta e acompanha futebol. Isso sem falar em pessoas peversas que aproveitam o fato de está em um grupo social, uma tribo urbana, para praticar o mal.

Alguns atrás, o promotor público de São Paulo. Dr. Fernando Capez, ficou conhecido no Brasil todo por agir com tolerância zero contra as torcidas organizadas daquele Estado, chegando até extingui-las. Tive o prazer de conversar rapidamente com ele, junto com alguns colegas, em duas vezes que ele esteve em Maceió, a convite do CESMAC, para proferir palestra. Naquela época, ele partilhou conosco o que lhe motivou foi o fato de amar tanto futebol que não admitia ver o esporte e o time que ele ama ser associado a marginalidade. Hoje, as torcidas organizadas voltaram a atuar em São Paulo. Mas com regras de ingresso mais rigorosas e fiscalização de perto por parte do Poder Público.

Aqui em Alagoas, várias vezes, o Ministério Público está fechando o cerco contra as torcidas organizadas e já divulgou na imprensa, por inúmeras vezes a pretensão de extingui-las. Mas até agora, nada de mais rigoroso foi feito.

Precisamos dar um basta a este clima de terror, que as torcidas organizadas causam em nossa sociedade. Alguns meses atrás já tinha escrito um

Estou cansado de ver no guarda-roupa a minha camisa novinha do CSA, pois se eu usá-la, corro o risco de alguém da torcida rival tirar a minha vida (sei de vários casos de pessoas que foram violentamente espancadas apenas por vestir blusas azul ou vermelha. Absurdo dos absurdos!).

Estou cansado de ficar triste ao ver jovens perdendo sua vida por causa de uma merda de um time.

Estou cansado de ver linda moças de família, se envolvendo tão profundamente nesse fanatismo doentio, que passam a agir como homens, como marginais.

Enfim, estou cansado de ver algo tão belo que é torcer por time em comunidade, torna-se muitas vezes, camuflagem para a bandidagem agir.

Vivermos em uma democracia. Um dos direitos que eu tenho é justamente de escolha. Sou Azulino e Flamenguista de coração, e tenho amizade sadias e sinceras com regateanos, vascaínos. Cada um torçe por um time. Se todos torcessem por um só, que tédio seria. Como íamos brincar quando o nosso time perdesse. Ia ser morgação.

Escrevo pela segunda vez sobre este assunto (o primeiro foi meses atrás, postado no blog Evangeliza Juventude, que eu postarei de novo aqui, logo em seguida), pois quero deixar registrado a minha indignação contra estes atos criminosos cometidos por alguns membros das torcidas organizadas, que acabam deixando todos nós, temerosos com todos os membros destas, obrigando-nos a cometer a injustiça pecaminosa da generalização, gerando em nós, preconceitos e rotalização dos nossos semelhantes.

Enfim, rezo a Deus que toque o coração de todos envolvidos nesta questão delicada: o poder público, a diretoria e atletas dos clubes, e, principalmente, os jovens participantes das torcidas organizadas, para modifiquem essa situação diabólica, e espero que torcer por um time em comunidade não seja apenas um motivo de aterrorizar e cometer crimes contra os seus semelhantes.

Quem sabe até um dia eu vá torcer pelos meus times, junto com as torcidas organizadas deles. Mas apenas quando estas sejam verdadeiramente torcidas de incentivo ao time de coração e não instrumentos diabólicos de ódio, intolerância e violência.

* = Trocadilho que eu fiz com os nomes das duas maiores torcidas organizadas de Alagoas, utilizando título do último filme de Zumbis exibido nos cinemas: Zumbilândia.

Rick Pinheiro.
Teólogo, professor de Ensino Religioso, Filsofia e Sociologia, Bacharel em Direito, catequista crismal e membro do Grutpo Teatral Apoteose da Arquidiocese de Maceió, e verdadeiro torcedor do CSA e do Flamengo.


= Originalmente publicado, no blog Evangeliza Juventude, em 17 de Abril de 2009.
Disponível em: http://evangelizajuventude.blogspot.com/2009/04/imbecilidade-de-brigar-por-causa-de-um.html 


2 = Originalmente publicado no antigo Blog do  Rick Pinheiro, em 28 de Junho de 2010.


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