Há exatos dois anos, teve reunião da PJ Área Norte, em São Luiz do Quintude. Confeso a vocês que nas últimas semanas que antecederam aquela data tão marcante, passava por um desânimo geral em minha vida, sobretudo com a missão. É aquela fase na fé, que todos nós passamos, onde não ouvimos nem sentimos a resposta de Deus para as nossas orações, e que os santos místicos chamam de Aridez Espiritual. Mesmo tendo a graça de fazer duas coisas que eu amo de coração, evangelizar e viajar, não estava animado para presidir aquela reunião e viajei até mesmo com uma certa má vontade.
Logo na estrada, dentro de uma Van lotadíssima, mas cuidadosamente dirigida pelo motorista que, ao contrário de muitos, dirigia na velocidade limite entre 60 e 80 km/h, recebo a ligação do meu amigo-irmão Abdias (este na foto comigo, tirada em Passo do Camaragibe na segunda-feira do carnaval deste ano), na época, coordenador da PJ Paroquial Nossa Senhora da Conceição, de São Luiz do Quintude, preocupado comigo. Uma acolhida desta, já anima qualquer um.
Chegando na entrada da cidade, uma senhora, que não era idosa (devia ter seus quarenta e poucos anos), começa a discutir com o motorista, por ele ter cortado caminho para entrar na cidade, ao invés de ir pela BR (do jeito que estava lotada, era multa e apreensão do veículo na certa, e todos nós ficaríamos no meio do caminho). O motorista até pediu desculpas, mas ela disse em alto e bom som que não o perdoava por fazê-la andar. Quando ela saiu, todos nós passageiros ficamos indignados com o "barraco" feito por aquela senhora. Todo aquele escandâlo e falta de perdão apenas porque a folgada não queria andar um pouquinho a mais. E uma distância que não mais do que cinco minutos. Uma passageira, com crianças pequenas, disse: "Eu ando um bocado com esses meninos até a estrada. Por quê ela não anda um pouquinho deste? Não tem problema para mim, quanto mais para ela.". Outro passageiro, resumiu o que todos nós queria dizer àquela senhora briguenta e preguiçosa: "Quer que o carro deixe na porta, então, compre um carro!". O fato me fez pensar o quanto somos egoísta.
De fato, somos muito egoístas. Veja o meu caso: desanimado, quase que eu não iria realizar aquela missão que Deus tinha me confiado. Estava tão fechado em mim mesmo e nos meus problemas, que esquecia de olhar para o lado, da mesma forma daquela senhora arengueira, que não compreendeu que o problema do motorista e dos demais passageiros seria bem maior do que o dela, se ele tivesse atendido os seus caprichos e a tivesse deixado na porta da casa. A Polícia Rodoviária parava o carro e todos ali, não chegariam aos seus destinos, ao contrário dela, que já estaria em casa numa boa. Quero deixar claro que não quero justificar o erro do motorista em está com a Van irregularmente lotada, mas ao chegarmos no Centro de S. Luiz, a maioria de nós descermos, o que deixou a Van com sua capacidade de passageiros correta, prosseguindo viagem rumo à Matriz do Camaragibe, Porto Calvo e Maragogi. Pela velocidade respeitada dele e a reclamação com o cobrador que insisitia em colocar mais pessoas, quase a viagem toda, chegando até a barrar a entrada de crianças em Barra de Sto. Antônio, mostrava que ele era prudente e estava preocupado com a segurança de todos.
Esta foi a primeira lição que Deus me ensinou naquele dia: Sair de mim mesmo e olhar para os meus próximos. Problemas todos têm.
Ao chegar na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, Abdias já estava me esperando. Disse-me que estava lá apenas o pessoal da Paróquia dele, o que me fez, precocemente, desanimar mais ainda. Passados cinco minutos, chegam os representantes de Porto Calvo, meus irmãos em Cristo e amigos, Neide e Luiz Antônio. Como estavamos esperando o fim da celebração do batismo para nos reunirmos e também a chegada dos jovens de Maragogi que ainda estavam na estrada, tive a oportunidade de bater um papo com Abdias e depois com a Neide. O primeiro relatou sua preocupação com a falta de comprometimento de alguns coordenadores dos grupos jovens da Paróquia, que simplesmente sumiram. Já a Neide, me relatou o momento que ela está passando de aridez espiritual. Cada um com o seu problema e eu com ambos os problemas.
Segunda lição de Deus para mim naquele dia: estamos todos nos mesmo barco e passamos as mesma tempestades. Precisamos uns dos outros nesta caminhada da vida. Como Dom Bosco disse: "Deus nos colocou no mundo para os outros.".
Começa a reunião e mais lições aprendi com os coordenadores jovens das três Paróquias presentes: Deus nos escolheu para servi-Lo, precisamos ter mais intimidade com Deus, amá-Lo sobre todas as coisas, compreender os irmãos, cativá-los, acolhê-los, por isso mesmo, decidirmos que a próxima reunião seria numa Paróquia faltosa.
Após a reunião, fui lanchar com os jovens de Porto Calvo e Maragogi. Trocamos experiências, rimos, nos divertimos, nos preocupamos com a falta de contato de Maragogi com o taxista que os trouxeram, vimos a triste cena da Argentina vencendo. rsssssss...
Voltei tão revigorado e até com uma certa vergonha de mim mesmo. Cheguei a tempo de participar da Missa no Santuário da Virgem dos Pobres, em Mangabeiras. E tome mais lições de Deus para mim. As leituras daquele fim de semana falavam de arrenpedimento dos pecados e perdão de Deus. Últimas lições perfeitas para um dia onde Deus abriu os meus olhos que, mesmo eu estando em Aridez Espiritual, afastado-me Dele e da missão que me confiou, Ele jamais se afasta de mim.
Rick Pinheiro.
Teologo, professor de Ensino Religioso, Filosofia e Sociologia, bacharel em Direito, catequista crismal e membro do Grupo Teatral Apoteose da Paróquia do Divino Espírito Santo da Arquidiocese de Maceió.
* = Publicado originalmente em 14/06/10.
* = Publicado originalmente em 14/06/10.
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