sexta-feira, 27 de maio de 2011

SUPER-VALORIZAÇÃO DOS NOSSOS PROBLEMAS.

Reflexão.
Super-valorização dos nossos problemas.

Faz mais de uma década que eu conheço Dona Ivone (nome fictício para não expôr a pessoa), uma simpática idosa, com seus bem vividos e abençoados setenta e poucos anos. Devido a correria do dia-a-dia e pela considerável distância dos bairros onde moramos, raralmente nos encontramos. Mas, neste tempo todo de  amizade, a cada encontro,  nada muda, sempre vem à torna o mesmo assunto. Reclamação da vida, diz que tá com dores ali, outras acolá. No meu egoísmo humano, até evito a típica pergunta  "Como vai a senhora?", já para evitar ficar constrangido e sem graça com a resposta "Tô indo mal!", seguida de um rosário de problemas de saúde típicos da idade, mas que esta estimada senhora faz questão de aumentá-los com seus exagerados lamentos e reclamações.

Não quero minimizar, muito menos dizer que ela não tenha problemas de saúde, até porque, quanto mais avançamos na idade, mais nossa saúde requer cuidados especiais e redobrados. Mas, o fato é que ela, em comparação a outras pessoas da sua idade e  até bem mais novas, graças ao nosso Bom Deus, está vivinha, não aparentando a idade que tem, caminha perfeitamente, tem um lar aconchegante e atenção total do marido e filhos, e de quebra, dar um show na cozinha, preparando deliciosos pratos que só de lembrar dar água na boca.

Pe. Fábio de Melo disse por várias vezes que "aquilo que vemos nos outros e nos incomoda, na verdade são defeitos que temos, e na maioria das vezes, mais do que a pessoa". E partindo desta verdade, anunciada pelo conhecido sacerdote, percebo que a maioria de nós, somos idênticos ou até mais que Dona Ivone, ou seja, super-valorizamos demais os nossos problemas. Dificuldades, dores, sofrimentos todos temos. Mas, se pararmos para analisar, em 99% das vezes que eles surgem, fazemos logo um dramalhão mexicano e culpamos Deus por eles, como se fossemos os únicos no universo a passar por eles, achando que Deus não tenha algo mais importante a fazer do que ferrar com a gente.

Costumo dizer, tanto na catequese em minha Paróquia quanto nas pregações que realizo aonde Deus me envia, que o povo judeu do Antigo Testamento, em especial do Pentateuco é muito reclamão e ingrato. Pediram para ser libertos, Deus libertou. E o resultado: reclamaram da caminhada do deserto, chegaram até pedir para voltar à escravidão no Egito. Pediram comida e água, Deus enviou o maná, as codornas e água, e em troca, mais reclamações. Ser reclamão e ingrato com Deus, é só exclusivo do povo de Deus do Êxodo?

Particularmente, assumo que, pela minha pouca  fé, devo está no topo da lista dos mais reclamões e ingratos com Deus. Em comparação comigo, Dona Ivone e o povo judeu do Pentateuco são santos cordeirinhos,  pessoas que menos se desesperam e reclamam  com Deus, diante das tribulações. Quem não é engajado na Igreja, espanta-se quando assumo este grave defeito. Pensa que quem é da Igreja não se desespera e super-valoriza os problemas. E deveria ser assim. Afinal, amamos e dizemos seguir o Deus do impossível. Mas, o fato é que, infelizmente, a nossa fé ainda é pequenina.

Portanto, coloquemos os nossos joelhinhos no chão e peçamos a Deus que aumente cada vez mais a nossa fé, para que possamos viver plenamente a Sua Palavra e assim encaramos as tempestades da vida, do tamanho e intensidade como realmente são. Lembre-se, querido(a) internauta, que Deus só permite que elas venham  em nossa vida, infinitamente inferiores a nossa capacidade de superá-las.

Rick Pinheiro.
Teólogo, professor de Ensino Religioso, acadêmico de Direito, assessor arquidiocesano da Pastoral da Juventude, catequista e membro  do Grupo Teatral Apoteose da Paróquia do Divino Espírito Santo, da Arquidiocese de Maceió.

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