Formação.
Apocalipse sem segredos.
Como sabemos, a Bíblia é uma coleção de livros, inspirados pelo Espírito Santo, em escritos em épocas e gêneros literários diferentes e diversos. Logo, não é para ser lido totalmente ao pé da letra, mas é fundamental o conhecimento do contexto histórico, os recursos literários que cada autor sagrado usou para passar a Palavra de Deus. Para isso que existe o Magistério de Deus, para nos dar as respostas que, vão além da nossa leitura orante.
Um dos livros que não deve ser interpretado literalmente, justamente por utilizar bastante alegoria é o Livro do Apocalipse de São João, tema do último encontro da nossa turma de Crisma. Portanto, repasso para vocês, um resumão, fruto de uma extensa pesquisa em livros e na internet, para que este belíssimo livro, que assusta tanta gente, seja atraente a leitura.
Por José Bortolini
Ao abrir o Apocalipse ficamos impressionados. Muita gente se assusta e desiste. Alguns acham que o fim do mundo está perto. Para abrir essa “casa assombrada” cheia de pensamentos e de fantasma, podemos utilizar sete chaves:
1 – Apocalipse, livro da RESISTÊNCIA
Apocalipse é uma palavra grega que significa revelação. Era um modo de escrever muito popular nos dois primeiros séculos antes de Cristo e nos dois depois dele. O mais importante escritor apocalíptico do AT é o autor do livro de Daniel. A função do livro é apoiar e incentivar a resistência dos Macabeus contra a dominação estrangeira
O livro do Apocalipse pegou carona com o livro de Daniel. O objetivo é incentivar e denunciar as perseguições sofridas pelos cristãos da época.
2 – Apocalipse, livro da DENÚNCIA.
A denúncia das injustiças sociais-carteira de identidade dos profetas- foi observada pelas preocupações dos sacerdotes em relação ao culto. No AT dificilmente os profetas mobilizavam o povo à resistência. Seu ponto forte era a denúncia contra as injustiças nacionais. A apocalíptica foi além: organizou o povo para resistir contra as injustiças internacionais, tornando-se movimento de resistência. É um livro de DENÚNCIA PROFÉTICA que leva a RESISTIR.
3 – Apocalipse, livro da CELEBRAÇÃO
O Apocalipse pressupõe um clima de celebração. A resistência e a denúncia supõem um grupo unido e organizado que têm uma mística. Que é a vitória de Jesus sobre a morte (Cordeiro de pé, como imolado, cf 5,6). A vitória de Jesus sobre a morte projeta a comunidade para o futuro da nossa história. As comunidades que lêem o Apocalipse sentem o forte apelo que Deus lhes faz. Iluminadas pela ressurreição de Jesus percebem que chegou o momento de denunciar, resistir e celebrar a sua fé.
4 – Apocalipse, livro do TESTEMUNHO
“João testemunha que tudo quanto viu é Palavra de Deus e Testemunho de Jesus Cristo” (1,2). Testemunho e martírio significam no Apocalipse a mesma coisa. Testemunho é o tronco do qual nasceram os três ramos: RESISTÊNCIA, DENÚNCIA E CELEBRAÇÂO.
A resistência ao poder opressor, a denúncia das injustiças que ele provoca na sociedade, e a celebração da fé em Jesus, o único Senhor, levam as comunidades a enfrentar o martírio.
5 – Apocalipse, livro da FELICIDADE
O autor deixa isso bem claro mediante um jogo de números. Ele espalhou sete bem-aventuranças ao longo do livro (1,3; 14,13 16,15; 19,9; 20,6; 22,7; 22,14). No apocalipse o numero sete é símbolo de perfeição.
As bem-aventuranças falam de uma felicidade possível e realizável. A mais importante está em 19,9: a verdadeira felicidade é, mediante a DENÙNCIA, a CELEBRAÇÃO, e a MARTÍRIA, participar do banquete de casamento do Cordeiro, tornando-se esposa dele, ou seja, criando um a sociedade justa e fraterna.
6 – Apocalipse, livro URGENTE
O autor não estava pensando no fim do mundo quando fala que o tempo está próximo. O tempo de que fala é o tempo da resistência, da denúncia, da celebração e do testemunho que geram a felicidade de ver realizado o projeto de Deus na história da humanidade. É um livro URGENTE urgentíssimo. Sem RESISTÊNCIA, DENÚNCIA, CELEBRAÇÃO e TESTEMUNHO a Nova Jerusalém não irá acontecer..Neste sentido, o Apocalipse continua sendo livro URGENTE também para nós.
7 – Apocalipse, livro da ESPERANÇA
O Apocalipse não mete medo. Pelo contrário devolve esperança às comunidades que lutam por um mundo novo. Deus é o Senhor da história e a governa segundo o seu projeto. O Cordeiro (Jesus Ressuscitado) venceu para sempre a morte. A Nova Jerusalém, símbolo da sociedade plenamente fraterna, desce do céu para a terra, para o meio da nossa história e caminhada. O paraíso não está às nossas costas, e sim à nossa frente, no horizonte de nossa história.
Alguns símbolos e sua explicação conforme o biblista Carlos MESTERS em seu livro: Apocalipse: Esperança de um povo que luta, editado pela Paulus.
1 - Sete candelabros (1,12): são as sete comunidades (1,20);
2 - Túnica longa (1,13): sinal do seu sacerdócio;
3 - cinto de ouro (1,13): ele é rei;
4 - Cabelos brancos (1,14): sugere sua eternidade;
5 - Olhos como chama de fogo (1,14): indica a ciência divina;
6 - Pés de bronze (1,15): símbolo de firmeza e estabilidade;
7 - Voz com barulho de águas torrenciais (1,15): revela sua majestade e poder;
8 - Sete estrelas na mão (1,16): são os sete coordenadores das comunidades;
9 - Espada que sai da boca (1,16): é a Palavra que tem o poder de Deus;
10 - Rosto como o sol (1,16): revela autoridade;
11 - Cai morto aos pés (1,17): reflete a situação das comunidades;
12 - Visão do trono (1,4; 22,3): revela a grandeza de Deus;
13 - A grande prostituta ou Babilônia (17,3-5): a capital da exploração: Roma
14 - A mulher grávida (12,1-2): o Povo de Deus gerando o Messias, o libertador;
15 - Dragão ou serpente (12,3.9): o poder do mal que opera no mundo, Satanás;
16 - Sete cabeças (12,3): são as sete colunas da cidade de Roma (17,9)ou sete reis(17,1-10);
17 - Dez chifres (12,3): O chifre é sinal de poder (17,12), dez é a totalidade;
18 - 1260 dias (12,6), 42 meses (11,2), tempo, tempos, meio-tempo (12,14): é a metade de sete anos, tempo limitado e imperfeito, ou seja, Deus limita o tempo do perseguidor;
19 - Asas de águia (12,14): é a proteção com Deus conduz o seu povo (Dt 32,11; Ex 19,4);
20 - Besta-fera (13,11): é o império romano, o poder que encarna o mal; capanga do dragão;
21 - Besta-fera com aparência de cordeiro e voz de dragão (13,11): são os falsos profetas que se colocam a serviço do império romano para legitimá-lo diante do povo;
22 - Pantera, urso, leão (13,2): símbolo da voracidade e de exploração;
23 - Cordeiro (14,1): é Jesus, cujo sangue opera a libertação do povo;
24 - 144 mil (14,1-4): é o número completo: 12x12x1.000; 12 do AT e 12 do NT;
25 - Babilônia (14,8; 18,2): é Roma que explora os povos para se enriquecer (18,3.9-13);
26 - Filho do Homem (14,14): imagem de Jesus Messias tirado de Dn 7,13;
27 - Harmaquedon (16,16): símbolo da derrota dos exércitos inimigos, tirado de Zc 12,11;
28 - Cor branca (19,14): símbolo da vitória;
29 - 1.000 anos (20,2-7): é o tempo completo entre o fim da perseguição e consumação do mundo, multiplicidade, número incontável;
30 - Lago de fogo (20,14): símbolo daquilo que é mal e se opõe ao plano de Deus;
31 - Segunda Morte (20,14): é a morte da própria morte, na consumação só há VIDA;
32 - Nova Jerusalém (21,2): símbolo do novo Povo de Deus a partir de Jesus Cristo;
33 - Núpcias do Cordeiro (21,2; 19,9): vitória e festa final da união de todos os seres
humanos com Deus;
34 - Alfa e ômega - a e W (21,6): primeira e última letra do alfabeto grego; princípio e fim;
35 - CORES: vermelho: sangue e violência; preto: morte e mal; verde: morte e decomposição; púrpura: luxo, magnificência real; azul: pureza, transparência;
36 - OBJETOS: palma: vitória; trombeta: mensagem, chamar atenção; olhar: julgamento; olhos: sabedoria, conhecimento; chifres: força, poder; asas: mobilidade e proteção; selos: segredo, importância; candelabro: comunidade, Israel; ouro: valor, preciosidade;
37 - SERES VIVOS: anjo: mensageiro de Deus; cavalo: poder militar; mulher: segunda
Eva, novo povo judeu; águia: liberdade. alcance; touro: força;
38 - NÚMEROS: 3 (31 vezes): pluralidade perfeita; 3 1/2: brevidade, imperfeição fraqueza; 4 (29 vezes): os quatro pontos cardeais; 6: imperfeição; 7 (43 vezes): plenitude, perfeição; 10: número completo; 12 (22 vezes): perfeição escatológica; 24: 2 vezes 12, plenitude do Povo de Deus; 42: número do meses do período de 3 anos e meio, o mesmo que 3 1/2; 666: a imperfeição total, fraqueza; 777: perfeição e plenitudes absolutas; 1260: número de dias do período de 3 anos e meio, o mesmo que 3 1/2; 12.000: ilimitado; 144.000: infinitude do Povo de Deus.
Referências Bibliográficas:
BARTOLINI, José. Como ler o apocalipse - Resistir e Denunciar. 8 ed. São Paulo: Paulus, 2008.
MESTERS, Carlos. Esperança de um povo que luta. 12 ed. São Paulo: Paulus, 2006.